'É justo isso você entregar uma jovem para Estado e receber só ossos carbonizados?', questiona mãe de policial morta

Mães de policiais mortos em serviço fundam associação para oferecer apoio a familiares e combater estigma da profissão.




Se Zoraide Vidal e Francilene Pinheiro tivessem se conhecido antes, teriam provavelmente compartilhado as angústias com a rotina de trabalho dos filhos policiais. Mas foram apresentadas uma à outra por compartilharem a mesma dor: 
ver os filhos, ainda jovens, assassinados em serviço - e, em vez de solidariedade, receberem olhares de desconfiança da sociedade.

"Quantas vezes as pessoas não questionam: 'Seu filho não estava envolvido não? Não estava envolvido com bandido? Vai ver estava envolvido com traficante, por isso que mataram ele'", diz Francilene, que tem 66 anos e há 11 perdeu seu filho único, o policial civil Thiago Pinheiro, aos 26 anos.

"Se o Estado já não cuida deles enquanto estão na ativa, imagina então quando são feridos e ficam de cama. Como é que uma família vai cuidar de uma pessoa que ficou tetraplégica sem recursos? Resolvemos fazer essa parte que ninguém quer", resume Zoraide.

Ludmila Fernandes Fragoso tinha 24 anos quando foi assassinada após um assalto na Baixada Fluminense, em agosto de 2006. Identificada por levar a arma e o documento de policial civil, foi torturada e morta a pauladas. O corpo foi encontrado carbonizado dentro de seu carro.Ludmila era recém-casada e estava grávida do primeiro filho.
"A minha filha era de carne e osso, mas teve uma morte tão brutal que a gente só pôde pegar a carcaça dela. Eu não pude nem vê-la no caixão. É justo isso, você entregar uma jovem para a Secretaria de Segurança Pública e receber só ossos carbonizados?", questiona Zoraide.
"Eu acho que mãe nenhuma, hoje em dia, gostaria de ter um filho policial. Quando passei a aceitar a ideia, aconteceu", diz Francilene, lembrando o choque do assassinato.
"Não tem nem explicação. É uma dor que não existe. É uma perda incalculável. Quando acontece, tira teu chão, você fica perdida. É uma escuridão."

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